dimanche 31 juillet 2016

Auditora diz que resultados da Sonangol estão sobrevalorizados

João Pedro Pereira

26/07/2016 


Isabel dos Santos é presidente não executiva por nomeação do pai Fernando Veludo/NFactos

A consultora EY, que auditou as contas da Sonangol, afirma que os resultados apresentados no relatório anual da petrolífera angolana estão “sobrevalorizados” em dezenas de milhões de euros.


Numa de várias reservas expressas no relatório de auditoria anexo ao relatório e contas de 2015, a EY refere que “o activo não corrente, o resultado do exercício e os resultados transitados encontram-se sobrevalorizados em 30.243.059 milhares de AOA [kwanzas, 166 milhões de euros ao câmbio actual], 17.433.406 milhares de AOA [96 milhões de euros] e 12.809.653 milhares de AOA [70 milhões de euros], respectivamente”. As discrepâncias estão relacionadas com a desvalorização de fundos em que a empresa investiu e com despesas relacionadas com bolseiros do Grupo Sonangol.

Num contexto de descida acentuada do preço do petróleo, a empresa, que é integralmente detida pelo Estado, tinha comunicado no relatório e contas, apresentado no início deste ano, receitas de 2,3 biliões de kwanzas em 2015 (perto de 13 mil milhões de euros), o que significou uma descida de 38% em relação a 2014. Os resultados líquidos afundaram 66%, para 47 mil milhões de kanzas (259 milhões de euros).

No documento, a EY afirmou ter também reservas quanto a movimentos financeiros entre a empresa e o Estado angolano, explicando não ter elementos para confirmar se os montantes em causa “reflectem todas as transacções, direitos e obrigações” da Sonangol enquanto concessionária estatal (a posição da auditora encontrou eco na opinião escrita pelo conselho fiscal da empresa). A EY incluiu ainda uma nota para o adiamento, “ao contrário do esperado no final de 2014”, do negócio de exploração de gás natural liquefeito em Angola e o consequente impacto negativo nas contas do grupo.

A Sonangol, para onde foi nomeada recentemente uma nova gestão, está a passar por um processo de reestruturação, que implicará dividir a empresa. Há pouco menos de dois meses, e com a economia angolana a sofrer com a quebra do petróleo (chegou a estar em cima da mesa um pedido de resgate ao FMI), o presidente José Eduardo dos Santos escolheu a filha, Isabel dos Santos, para os cargos de presidente e administradora não executiva da empresa. A decisão gerou controvérsia dados os muitos interesses empresariais de Isabel dos Santos dentro e fora do país e está a ser contestada por um grupo de juristas angolanos.

A teia de ligações entre Isabel dos Santos e a Sonangol é densa e a actividade tanto da empresária, como da petrolífera, tem várias ramificações em Portugal, como é o caso de um investimento conjunto na Galp Energia. Para além disso, Isabel dos Santos tem participações nos bancos BPI (é o segundo maior accionista, com cerca de 19%) e BIC (que também tem operações em Angola), bem como na operadora NOS e na empresa de soluções energéticas Efacec. Em Angola, a Sonangol é dona de 25% da Unitel, controlada por Isabel dos Santos e que é accionista de 49,9% do Banco de Fomento Angola, que é maioritariamente detido pelo BPI.


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