mercredi 23 mars 2016

UNITA: Angola esta numa situação de emergência, semelhante à situação criada pelo surto de Marbourg

17 março 2016  

Luanda - Preocupada com a situação do país, a UNITA, na pessoa do seu Vice-Presidente, apresentou hoje, em conferência de imprensa e em nome do Governo-Sombra de que é coordenador, o estado da saúde no país e particularmente em Luanda, bem como as vias de solução para esse caso que se transformou rapidamente numa verdadeira tragédia nacional. Eis, para o conhecimento público, o texto da conferência de imprensa:

Fonte: UNITA-


GOVERNO-SOMBRA: CONFERÊNCIA DE IMPRENSA SOBRE A SITUAÇÃO SANITÁRIA DE LUANDA E DO PAÍS, EM GERAL

Senhoras e senhores jornalistas,

Angola está neste momento a viver uma verdadeira tragédia, fruto da má planificação orçamental, da má gestão dos recursos públicos, do desprezo total dedicado à Saúde – sector vital para qualquer país que busque verdadeiramente o desenvolvimento – da priorização do desvio em detrimento do bem comum, da vontade marcante de erguer o betão e derrubar o cidadão. Em Angola, os angolanos estão a sobreviver como vermes e a morrer como vermes. Mata a febre amarela, mata uma outra febre qualquer, uma diarreia qualquer, uma doença qualquer. Mas, o que é mais doloroso, é que matam doenças perfeitamente preveníveis e evitáveis, se estivéssemos num país sério e, sobretudo, com um governo sério. E isso, infelizmente, não temos.

O que se passa nos hospitais deste país, e muito particularmente nos de Luanda, é uma autêntica tragédia; é uma autêntica pouca vergonha. O grito de socorro vem do Hospital Pediátrico de Luanda, do Américo Boa Vida, do Cajueiro, de todas as unidades hospitalares onde falta tudo; absolutamente tudo; da luva à seringa; do penso ao comprimido; do fio de sutura ao simples aspirador que leva à morte dezenas de recém-nascidos; ao lado das morgues já sem capacidade para comportar cadáveres, enquanto os caixões também fazem filas enormes à entrada dos cemitérios, tal é o número de óbitos que ocorrem diariamente aqui em Luanda, onde todos os visitantes são levados às centralidades do Kilamba, do Cacuaco, do Zango, etc., para ver a capacidade chinesa de erguer prédios, quando falta capacidade para alimentar os cidadãos, assegurar-lhes alguma saúde e um mínimo de tempo de vida. Isso, minhas senhoras e meus senhores, é o colapso de um governo e de um regime que, volvidos 40 anos, se afunda de forma precipitada, mostrando completa incapacidade, falta de engenho e abundância de maldade.
  
O que é que está efectivamente a acontecer e o que é preciso fazer?

Há uma grande avalanche de doentes que acorre aos hospitais em busca de socorro. São doentes de malária e febres hemorrágicas como a dengue, chikungunya e febre amarela. O aumento na incidência destas doenças é o resultado directo da combinação dos amontoados de lixo espalhados pela cidade, e os charcos de água putrefacta que se formam em decorrência das quedas pluviométricas que se abatem sobre a cidade, nos últimos tempos. Esta combinação favorece as condições propícias para o desenvolvimento de mosquitos, que são os vectores destas doenças, isto é, que transmitem, através das suas picadas, os protozoários e vírus que as causam. Como se sabe, quanto mais doentes há, maior a chance de existirem mosquitos infectados e, portanto, capazes de transmitir a doença. Assim sendo, é muito importante combater o vector por métodos diversos e, assim, impedir a transmissibilidade dessas doenças. Por isso, as medidas de saneamento básico e a luta anti-vectorial são a forma mais eficaz de prevenção destas doenças que são perfeitamente evitáveis.

As enchentes nos hospitais e centros médicos têm desencorajado os doentes a procurar precocemente os cuidados médicos e assim, muitos dos casos chegam aos hospitais em estádios avançados da doença e, em muitos casos, com formas complicadas da doença. As crianças, particularmente, são bastante vulneráveis à anemia que se desenvolve nessas situações, requerendo, em muitos casos, transfusões de sangue para inversão da situação.

Ante este afluxo acrescido de doentes, os hospitais têm revelado absoluta impotência para responder à demanda, sendo os principais pontos de constrangimento os seguintes:

1) Pessoal médico e de enfermagem insuficiente, o que torna o atendimento lento, algumas vezes inexistente, com os doentes a levarem, na maior parte dos casos, acima de cinco horas para serem atendidos, o que agrava ainda mais o quadro e provoca a ansiedade por parte dos familiares, geradora de tensões passíveis de descambar em atitudes violentas;

2) Espaço físico limitado para albergar doentes e acompanhantes, mormente no caso das crianças, ocasionando, para todos, funcionários e utentes, grande desconforto e risco acrescido para a transmissão de outras doenças como, por exemplo, as respiratórias;

3) Falta de medicamentos para os primeiros socorros, nomeadamente analgésicos/antipiréticos, anticonvulsivos e soros, para corrigir desequilíbrios hemodinámicos, dificultando a prontidão na assistência ao doente;

4) Material gastável insuficiente e até mesmo inexistente, nomeadamente seringas, luvas, sistemas de infusão endovenosa (soros) e outros;

5) Suporte laboratorial deficiente, por incapacidade técnica dos laboratórios instalados nos serviços de urgência, onde os equipamentos são rudimentares, os reagentes quase sempre inexistentes e o pessoal técnico de igual modo, insuficiente para a demanda.

É este desequilíbrio entre o fluxo aumentado de doentes que procuram cuidados médicos e as condições minguantes existentes nos hospitais que explica o caos que hoje assistimos nos hospitais de Luanda, da rede pública. Pode-se afirmar, categoricamente, que o sistema entrou em colapso, daí as elevadas taxas de mortalidade que caracterizam o quadro desses hospitais, nos últimos tempos. Informações fidedignas e praticamente irrefutáveis apontam para uma média de 25 mortes por dia, no Hospital Pediátrico de Luanda e no Serviço de Pediatria do Hospital Américo Boavida.

No caso deste último, se acrescentarmos uma média de 5 a 7 mortes por dia, de doentes adultos, somando enfermarias e urgências, estaremos a falar de cerca de 30 mortes por dia, o que representa uma taxa de mortalidade escandalosamente elevada para um hospital de nível terciário. As taxas de mortalidade diária são igualmente elevadas em outras unidades sanitárias, nomeadamente no Hospital Josina Machel, no Hospital Geral de Luanda, na Maternidade Lucrécia Paim, no Hospital do Cajueiro e em toda a rede de hospitais municipais. Portanto, contas feitas, estima-se que estão a morrer nos hospitais de Luanda uma média diária de 150 pessoas, uma cifra assustadora, brutal e escandalosa, para a qual as autoridades sanitárias do país ainda não despertaram. Nem mesmo o grito lancinante de socorro dos médicos do Hospital Pediátrico parece ter comovido os corações endurecidos dos membros do Executivo do Presidente José Eduardo dos Santos.


Estamos perante uma situação de emergência, semelhante, por exemplo, à situação criada pelo surto de Marbourg que assolou a região norte do país, há uns anos. Não se pode ficar indiferente diante deste trágico cenário, pois estamos a falar de cerca de 5 000 pessoas que podem perder a vida num mês por causas que são perfeitamente evitáveis. 

Tratando-se de uma situação de emergência, impõem-se medidas vigorosas e céleres que revertam, de forma activa, o quadro presente. Não se pode esperar que a imunidade natural adquirida e o quadro sazonal se encarreguem de diminuir passivamente a incidência dessas doenças. É preciso agir rapidamente e de forma determinada para evitar que mais mortes ocorram..

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